Ninguém faz escola sozinho!
Veja que quando falamos do nosso trabalho e vamos contando como tudo acontece, falamos com o coração. A frase do título eu disse numa entrevista e a repórter teve a sensibilidade de utilizá-la no título. No final do texto coloco o link para a entrevista completa.
Agora a frase é minha, não é?
A frase pode ser, mas o sentimento, arrumado de diversas formas e arranjado com diversas palavras já esteve nos pensamentos e nos escritos de muitos educadores renomados. Nós professores já lemos isso na faculdade, na pós-graduação, em livros, entrevistas, jornal, em um montão de lugares, mas ainda nos sentimos sozinhos.
Como você se sente na sua escola? É uma boa pergunta para fazer num encontro de formação. Aposto que a maioria de nós vai mentir, vai dizer que não, vai dizer que tem apoio, que é valorizado e tudo mais. Mas, a vida real nos diz que é mentira. Estudos recentes da saúde mental dos professores dizem que 26% dos docentes apresentava sintomas da síndrome de Burnout, que é o esgotamento físico e mental dos professores. Outra pesquisa apresentou 70%. Quando a pesquisa foi de uso de medicamentos, quase 35% dos entrevistados usavam anti-depressivos e 75% algum regulador de humor. Isso eu descobri numa dando um Google simples que qualquer um pode fazer se tiver dúvida ou se não conseguir perceber a realidade crua ao seu redor. Mas, nós vamos mentir quando perguntados porque não podemos parecer fracos ou sem motivação, temos que sempre saber o que estamos fazendo.
Eu arrisco um palpite. A maior parte de nós sofre porque se sente sozinho e incapaz de reagir frente a enormidade do trabalho que temos que fazer na escola. Nos sentimos sozinhos e não sabemos o que fazer para não estarmos mais sozinhos, não sabemos como nos unir, como trabalhar em grupo, como pensar coletivamente.
Durante muito tempo, eu me senti sozinha, isolada na minha disciplina, sem saber como me conectar com meus colegas. Quando assumi a coordenação pedagógica da Adolfina tentei fazer de tudo para contribuir para que os professores não se sentissem assim.
Como fizemos? São muitas as ações que não conseguiria resumir num texto curto, mas vou dar uma pincelada de cada coisa, para que vocês possam pensar.
A primeira coisa é que não deveríamos nos sentir sozinhas dentro da equipe de gestão da escola. Então, temos reuniões frequentes, dividimos todas as informações e tomamos decisões juntas em consenso.
Depois, tentamos ouvir sempre os professores.Não só o que eles estão dizendo, mas também o que silenciam. Implementamos cedo a Gestão Democrática com assembleias e uma Conferência Escolar anual.Garantimos o espaço de fala, mas não teríamos sucesso se não acreditássemos verdadeiramente na importância do que os professores diziam. É comum dizer que se respeita o espaço de fala, mas não garante uma verdadeira escuta.
Se não queremos que as pessoas se sintam sozinhas, se queremos que elas tenham coragem de trabalhar no coletivo, precisamos qualificar a nossa escuta. Quais são os maiores problemas que os professores relatam? Esses devem ser tratados primeiro.
Em cada escola, os problemas são diferentes, mas o caminho para resolvê-los não é. Todas as soluções devem passar pela escuta, pelo desenvolvimento de ações coletivas e pela garantia do cumprimento das propostas acordadas.O grupo de professores floresce quando percebe que a equipe diretiva, além de escutá-los, garante recursos para o desenvolvimento das ações, participa conjuntamente da execução e avalia com frequência.
Uma queixa frequente dos professores é sobre a indisciplina e o desrespeito dos alunos durante as aulas.Em muitas escolas, os professores são deixados para resolver tudo dentro da sala sozinhos, porque precisam ter domínio de turma. Quando isso é impossível, os professores se calam e levam um dia de cada vez, fazendo de conta que conseguem. Isso é tão triste! Sei que a gestão da escola não pode resolver tudo e que os problemas de indisciplina são muito mais complexos do que baixar alguma regras ou suspender alguns, mas sei também, por experiência real, que apenas juntos uma situação dessas se resolve.
Coordenadores, diretores, gestores de escola compreendam que só no coletivo se encontram soluções. E professores, não fiquem calados, digam o que os oprime, gritem, procurem soluções , formem coletivos, leiam sobre o assunto, ou ainda, tornem-se também gestores e discutam o tema nas suas escolas. Quando falamos que nenhum aluno deve ficar pra trás devemos saber que só conseguiremos isso se nenhum professor ficar para trás também.
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Link para a entrevista citada no início: https://gestaoescolar.org.br/conteudo/2286/ninguem-faz-escola-sozinho-diz-educadora-do-ano
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