Quem vai reinventar a escola depois dessa pandemia?

    Muita gente está falando sobre a escola, sobre como a escola deve funcionar durante o isolamento, sobre como alcançar atividades, sobre desigualdades no acesso à Internet, e por aí vai. Com certeza, muitas dessas pessoas  mais qualificadas e com muito mais propriedade do que eu. Mas, resolvi pegar um ponto que está me incomodando nessa discussão toda de escola remota, escola EAD, escola no isolamento.
    A preocupação que eu vejo na maioria as falas é como fazer para alcançar atividades para as crianças. Atividades! A preocupação não é o que as crianças vão aprender, mas quais tarefas vão executar para que não percam o ano letivo. O ano letivo não é um tempo de descoberta, de curiosidade, de encantamento pelo conhecimento, mas uma sequência de tarefas a serem cumpridas. Tarefas! Uma depois da outra, tarefas sem fim...
    Sei que há muito tempo, vários pesquisadores vem tocando neste tema. Esse assunto não é novidade para os que militam na educação. Rubem Alves não cansava de nos dizer: "Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas."  Na minha juventude, sonhava com as escolas  " que existem para dar aos pássaros coragem para voar". Mas, pelo que tenho visto, ninguém quer essa escola, todo mundo pede aquela escola na qual o professor o tempo todo diz o que fazer, diz o que estudar, e que o aluno o tempo todo tenta acertar a resposta certa, o tempo todo está com medo de errar, de tirar nota baixa.
   Se a escola "desse asas", se a escola fosse todo esse Paulo Freire que nos acusam de ser, nossos alunos iriam aprender o que quisessem sem esperar por tarefas ou atividades. Se a escola ensinasse a fazer perguntas, a pesquisar, a ansiar pelo conhecimento, as crianças e jovens estariam fazendo perguntas no Google sobre o que quisessem saber. Mas, muito pelo contrario, o que vemos são jovens que não querem descobrir nada sozinhos, porque só acham que aprendem quando alguém ensina, só acham que entendem quando alguém explica. E agora, que não tem mais escola para o professor ensinar e explicar. Agora, estamos perdidos e com medo. Com medo de perder o ano!!
    Será que é só eu que estou atordoada com isso. Será que é só eu que penso que o ano letivo é a coisa mais simples que vamos perder? Que estamos perdendo todos os dia vidas, amigos, irmãos, filhos, pais,...
    Por isso a pergunta no título. Quem vai reinventar a escola depois dessa pandemia? Quem?
    Nós professores, diretores, coordenadores. Nós que estamos ali com as crianças todos os dias é que vamos reinventar esse jeito de estar na escola. Quer dizer, vamos reinventar se conseguirmos aprender alguma lição do tempo em que estamos vivendo, não é? Eu penso que a maior lição seja entender que transformamos a escola num lugar de aprisionamento do conhecimento e não de liberdade. Dizemos que queremos alunos autônomos, mas não deixamos nem que peguem abram o estojo sem autorização. Queremos alunos autores, mas só aceitamos as respostas que estão no livro didático ou, pior, que cabem no espaço das palavras cruzadas 
 ou que são encontradas nos caça-palavras.
    Onde está a pesquisa, a resolução de problemas, os trabalhos em grupo? Estamos reproduzindo, agora em casa, essa individualização do conhecimento que está marcada na escola todos os dias. Por isso também, que a escola pública no Brasil não tem um desempenho adequado. Os caminhos que tenho visto alguma rede de ensino escolher é aquele cheio de apostilas e aulas prontas para  o professor só entregar.
    Nós não temos tempo pra isso na escola pública. Já não tínhamos antes, agora muito menos. Esse caminho do conteudismo não nos serve. As crianças e jovens do Brasil merecem que nós professores tenhamos coragem e humildade para nos reinventar. Para construir essa escola da pergunta, da autoria, da autonomia, da descoberta.
    Como? Veja que eu não sei como fazer em cada escola, mas sei que professores de todo o país estão se unindo em grupos de estudo, em redes de conversa, fazendo lives, trocando ideias, medos, dúvidas, anseios. Procure por um grupo, pesquise, forme um grupo na sua escola, porque não podemos deixar, mais uma vez a oportunidade passar.
    Quem vai reinventar a escola somos nós, com nossos colegas, com nossos alunos e nossa comunidade. E depois disso, vamos compartilhar nossos projetos para que outros possam se inspirar e acreditar que é possível uma transformação em cada escola.
    Vamos de mão dadas!!!

Comentários

  1. Joice, querida. Nesse momento, nossas contradiçoes sao escancaradas. Como mae, tenho me esforçado muito em como evitar desautorizar uma escola tarefeira para meu filho critico. Ele diz que lee 10 paginas do livro e copiar questoes de 2 paginas para responder eh inutil. Eu tbm nao vejo ele aprendendo muito com isso.
    Como professora formadora, tento considerar a cultura escolar da nossa sociedade, com uma pedagogia que nao tem nada a ver com nossa realidade. Como pesquisadora, sigo defendendo na universidade a experiencia da pesquisa como principio educativo, fomentando uma pedagogia que nasce nesse trabalho coletivo, comprometido e arduo que falas. A escola vai se reinventar de dentro pra fora, ou continuara na contradiçao. Sigamos.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

contador de visitas

visitas

Postagens mais visitadas